1. A JOC (Juventude Operária Católica) nasceu na Bélgica em 1925 pela
iniciativa de um jovem Padre Joseph Cardijn e de um grupo de jovens
trabalhadores e jovens trabalhadoras.
2. Na origem da JOC há uma dupla constatação:
> A constatação da situação intolerável de trabalho e de vida da juventude
trabalhadora.
> A constatação da distância entre a Igreja e a Classe Operária. Uma dupla
missão constitui e continua a constituir a base da JOC:
> A libertação dos jovens trabalhadores e trabalhadoras;
> Ser testemunho da presença libertadora de Jesus e do projecto de Jesus
Cristo no interior da Classe Operária.
3. A JOC desenvolve-se rapidamente em muitos países dos 5 continentes.
Em 1957, constitui-se oficialmente a JOC Internacional, cujo objectivo é
coordenar e promover a JOC no mundo.
4. A JOC é um Movimento de jovens (rapazes e raparigas) aprendizes,
operários, empregados, estudantes, trabalhadores agrícolas, desempregados e
empregados precários, etc., jovens que estão marcados pela condição operária na
família, no trabalho, na escola, nos tempos livres, na cultura.
5. A JOC é dirigida e organizada pelos próprios jovens: entre eles, para eles,
por eles
6. O objectivo geral da JOC é o anúncio de Jesus Cristo a todos os jovens
trabalhadores. Este anúncio é inseparável do compromisso na luta pela libertação
completa de todos os Homens de todos os tipos de opressão, de alienação, e de
exploração, tanto ao nível individual como ao nível colectivo e social.
7. Uma libertação pela qual todos e cada um poderão descobrir e viver o
sentido profundo da sua vida, das suas aspirações e procurar os valores que podem
verdadeiramente realizá-los.
8. No caminho da libertação, a JOC reconhece-se nas esperanças dos Homens
e de todos os povos que na sua história e hoje lutam na mesma direcção.
9. Concretamente, a JOC reconhece-se no processo histórico de libertação do
movimento operário, na sua luta, nos seus valores, na sua esperança, no seu
objectivo de realização de uma sociedade sem classes na qual a igualdade, a justiça,
a solidariedade, a liberdade, e a não violência serão as condições de base da
realização de todos e de cada um.
10. Na perspectiva da libertação, a JOC anuncia e propõe ao mundo operário, a
vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, como acontecimento decisivo para
uma libertação completa, promessa e sinal de um futuro aberto para os Homens e
para o mundo.
11. Pela descoberta de Cristo, pela celebração dos sacramentos, pela aquisição
de uma experiência de Igreja, o que os torna protagonistas na construção da
Igreja, sinal do reino de Deus.
12. A JOC para tornar mais eficaz o seu objectivo geral de libertação, assume
uma tarefa específica no interior do movimento operário: a educação dos jovens
para o compromisso e a militância.
13. A JOC propõe e vive um processo permanente de consciencialização que se
realiza através da reflexão e da acção. É através desta ligação, reflexão-acção, que
se desenvolve a tomada de consciência crítica, a formação de um projecto e a
transformação daqueles que aí estão implicados.
14. A consciencialização conduz à militância, valoriza-a e torna-a dinâmica. A
militância é o modo de compromisso activo, crítico, criativo e libertador que leva
cada um a situar-se face a si mesmo, face aos outros, e à realidade social do mundo.
É a capacidade de se situar historicamente e de se comprometer totalmente na
perspectiva da libertação do Homem.
15. O processo de formação e de educação da JOC é um projecto completo
porque ele toca e toma em consideração todas as dimensões do Homem e da sua
vida: desde a dimensão pessoal e psicológica à dimensão social, política e também à
dimensão ética e religiosa.
16. A educação libertadora é um processo que parte das situações concretas dos
jovens. Sobre estas situações faz-se uma análise profunda e uma descoberta das
causas e consequências, dos valores e das aspirações maiores da vida,
determinantes das acções concretas que provocam uma mudança.
17. A experiência de consciencialização proposta pela JOC desenvolve-se num
itinerário educativo que tem por objectivo levar os jovens da Classe Operária a um
compromisso militante e crente, no interior do movimento operário e em todos os
aspectos da vida.
18. A atenção à vida da pessoa, de cada trabalhador é típica na JOC. “Um
jovem trabalhador vale mais que todo o ouro do mundo” dizia Cardijn.
19. Esta atenção abre-se à análise da dimensão pessoal, mas também estrutural
da vida dos jovens, descobrindo as situações ao nível local, nacional e
internacional, ultrapassando assim o risco do intimismo. Trata-se de um aspecto
típico da JOC e dos Movimentos da Acção Católica especializada.
20. A análise da realidade permite conhecer as situações de dependência, de
insegurança, de alienação, de exploração dos jovens trabalhadores e dos jovens
desempregados dos países ricos, as quais são vividas de uma maneira mais
dramática pelos jovens dos países pobres.
21. A JOC criou e elaborou um método original para realizar o papel educativo
que ela fixou: A REVISÃO DE VIDA . Esta proposta enraíza-se em duas
convicções: a vida de cada jovem trabalhador é importante e Deus está presente
nesta vida.
transformar os jovens e as situações em que vivem
> formar militantes do Movimento capazes de conduzir eficazmente a acção com os
seus companheiros
> formar crentes, capazes de discernir na vida e na acção os sinais do espírito de
Cristo e capazes e testemunhar a sua fé aos seus companheiros.
O método da RDV é exigente. Ela leva os militantes a uma atitude de
abertura: que passam de “estar na JOC por si” a “estar na JOC para os
companheiros”.
23. A RDV, tendo em conta a qualidade e o conteúdo que lhe se quer dar é um
autêntico método de Igreja. Ela situa-nos de maneira original na Igreja.
24. É uma experiência colectiva de militantes operários e de crentes. Ela
formou gerações de militantes operários crentes e continua a fazê-lo.
25. A RDV é utilizada nas reuniões de grupos como método de reflexão, de
análise, de verificação da acção. A RDV na JOC não é uma técnica, nem uma
estratégia para realizar um objectivo.
26. Ela articula-se em três momentos fundamentais:
VER: Factos > situações > consequências > causas
JULGAR: Valores > aspirações > palavra de Deus > descoberta da fé
AGIR: Acção
27. VER:
O ponto de partida da JOC não é o problema dos jovens, nem tão pouco a teoria
sobre os jovens.
O ponto de partida da JOC são os próprios jovens trabalhadores, na densidade e
na riqueza da vida. Sua vida concreta. São as situações nas quais eles estão
inseridos e que condicionam a sua vida.
O “VER” deve ser um olhar preciso sobre a vida, as situações, as necessidades,
aspirações que exprimem os companheiros. Deve permitir procurar as causas de
tais situações, já que o “VER” supõe que a fatalidade não existe. É um método vital
para descobrir que é possível agir e adquirir uma consciência de classe.
28. JULGAR:
Deve permitir a cada um avaliar como se vai transformando e expressar um
projecto de vida. No “JULGAR” realiza-se a confrontação entre aquilo que somos
e aquilo que queremos ser. A partir deste confrontação, somos impulsionados à
acção. O “JULGAR” deve ser também um tempo de recolhimento, um olhar de
amor sobre a vida enraizada no “VER”, na vida dos companheiros, e sua
transformação.
É também um tempo de confrontação com a palavra de Deus para conhecer a sua
presença na nossa vida e na dos companheiros. Um tempo de acolhimento do
Outro, do testemunho dos primeiros crentes, de uma Palavra que nos interpela
hoje. Este método deve permitir a cada um exprimir a sua própria palavra de fé,
de a estruturar até suscitar a oração e a celebração em RDV.
29. AGIR:
Deve permitir a cada um concretizar os apelos contidos no “VER” e no
“JULGAR” em direcção aos companheiros. Deve convidar a dar testemunho aos
companheiros do sentido dado à acção, as suas riquezas, os sinais de Jesus Cristo
vivo, que a RDV revelou. Deve também permitir encontrar os meios para avançar
face às dificuldades ou questões encontradas no “JULGAR”, na nossa expressão de
fé.
A equipa deve dispor dos meios necessários para apoiar o “AGIR” de cada um.
30. A base do Movimento, em sentido lato, é formada por todos os jovens que
estão implicados na acção da JOC, e em sentido estrito, é constituída pelos
militantes.
31. Os militantes da JOC são jovens do mundo operário, organizados em
grupo, que se reconhecem nos objectivos do Movimento e que os realizam na sua
vida. Eles suportam financeiramente o Movimento.
32. Antes de tudo, eles estão comprometidos no seu meio (trabalho, escola,
bairro …) para transformar as situações de injustiça e de alienação, participando
na luta dos trabalhadores e do povo.
33. O grupo de militantes é uma pequena comunidade que se reúne
periodicamente. Aí os militantes avaliam a sua vida e acção, decidem, planificam,
realizam a acção, aprofundam e celebram a sua fé. Aí eles aprendem a dialogar e a
escutar, a criticar a realidade e a criticar-se, a viver juntos e a desenvolver o
sentido da solidariedade, a assumir a responsabilidade e a praticar um mínimo de
organização e disciplina. Neste sentido o grupo de militantes é uma escola de
formação.
34. O grupo militante como pequena comunidade quer ser testemunho de um
estilo de vida e de verdade que demonstra que é possível lutar, viver e alegrar-se
juntos.
35. A JOC é constituída, dirigida e organizada pelos próprios jovens, e propõese aos outros jovens.
36. Nesta afirmação a JOC quer pôr em evidência a forma como hoje a
juventude está marcada por uma condição de marginalização, de exploração, de
dependência, etc … mas portadora também de um potencial para fazer projectos
de criatividade, de transformação, de luta e de esperança.
37. Este potencial dos jovens da JOC exprime-se de uma forma concreta. São os
jovens que formam o Movimento, que o organizam, que decidem as orientações,
que divulgam o Movimento e o seu conteúdo aos outros jovens, que decidem e
organizam as acções e as intervenções face às diferentes situações da juventude.
38. A JOC defende que a acção dos jovens trabalhadores deve desenvolver-se a
partir das suas capacidades, do seu nível de compreensão e de formação.
39. A JOC com a sua acção e a sua proposta quer chegar ao conjunto dos
jovens. Também, por outro lado, não se propõe aos jovens a massa pela massa ou
uma identificação fácil, mas pelo contrário, propõe-se aos jovens tornarem-se
protagonistas através da acção sobre o seu próprio meio (trabalho, escola, bairro
…).
Para salvaguardar esta característica jovem, cada Movimento estabelece uma
idade limite e, se for possível, estabelecerá laços com um movimento de adultos.
40. A JOC nasceu no grito dos jovens trabalhadores, na opressão dos horários
extenuantes, da fadiga insuportável, da humilhação social. Ela difundiu-se
rapidamente porque por todo o mundo a juventude trabalhadora vive em
condições de esmagamento e de alienação.
41. A JOC faz parte do povo oprimido, da massa dos trabalhadores da Classe
Operária. Ela identifica-se nas aspirações e na luta pela emancipação e o
desenvolvimento, por uma libertação radical, por uma nova ordem económica e
social.
42. No interior da Classe Operária e do povo oprimido, a JOC valoriza e
analisa a condição dos jovens, denuncia as condições desumanizantes e trabalha
para promover uma acção representativa dos próprios jovens e reivindicações dos
seus direitos.
43. A JOC, todavia, não se limita a este tipo de acção, pois a sua tarefa
específica é educativa. A JOC educa os jovens a agir em conjunto com os
trabalhadores e com os movimentos que prosseguem um objectivo de justiça e de
igualdade, de luta contra o sistema económico capitalista, de emprego para todos e
de libertação do trabalho, por uma sociedade humana que não seja mais dominada
pela opressão de uma classe sobre outra classe, ou de um pequeno número de
pessoas ou de um povo sobre a grande maioria da humanidade.
44. Em particular, a JOC educa à participação e ao compromisso dos seus
militantes no Movimento Operário. Há uma tal diversidade de associações políticas
e sindicais para os trabalhadores, nos diversos países e continentes, que cabe a
cada Movimento nacional determinar as formas de participação.
45. A característica operária e popular da JOC é essencial e determinante, pois
ela qualifica o Movimento, faz realçar a sua originalidade. A característica
operária, por outro lado, especifica a característica jovem e indica o meio, o
contexto e a cultura, na qual se enraíza a característica cristã,
46. A JOC dirige-se a todos os jovens sem discriminação.
47. A JOC parte das situações e das condições pessoais e propõe a cada jovem
um processo educativo de acção e de reflexão que o leva a descobrir e a viver os
valores fundamentais da vida: a justiça, a liberdade, a solidariedade, o sacrifício, a
generosidade, a alegria, o amor.
48. Neste processo de libertação, a JOC educa os jovens a colocarem a si
próprios as questões de fundo que nascem do próprio processo de libertação:
> Qual é para mim o sentido da minha acção?
> Que sentido tem a vida e a morte?
> Tudo acabará um dia para mim?
> Há alguma garantia que a opressão, de que os jovens são também vítimas,
acabará um dia?
49. A JOC tem a sua própria proposta cristã neste processo de libertação e de
consciencialização dos jovens trabalhadores. Ela oferece aos jovens a possibilidade
de conhecer Jesus Cristo, como homem e libertador, Messias dos pobres e
pecadores, crucificado pelos homens e ressuscitado pelo Pai para uma vida mais
forte que a morte. Hoje Jesus continua vivo entre nós.
50. Deus torna-se fonte de amor para todos os homens. È o Espírito que os
anima, qualquer que seja a época em que vivem e qualquer que seja a sua fé, na
busca incessante da dignidade do ser humano.
51. Esta experiência de fé deve viver-se na pequena comunidade que é o grupo
de militantes, no Movimento e com os outros crentes do povo oprimido da Classe
Operária.
52. A JOC experimenta na vida, a difícil relação entre a Igreja e o Mundo
Operário, conhecedora da desconfiança e dos preconceitos que existem. A JOC
propõe, também, aos jovens viver uma experiência de fé profundamente enraizada
na realidade operária e popular. Não uma Igreja que se mostra hostil e longínqua,
mas uma Igreja que se enraíza, que cresce no povo: pelo povo, pelo trabalho do
Espírito, com a acção dos padres, religiosos, religiosas e dos leigos. Os padres
reforçam a dimensão de Igreja , no Movimento.
53. Os jovens trabalhadores crentes e não crentes sentem-se então aceites e
reconhecidos por uma comunidade eclesial mais larga, guiada pelos bispos,
portadora das suas riquezas e da sua dignidade. Na Igreja Católica a JOC está
presente com a sua responsabilidade e com o seu dinamismo operário. Ela torna
protagonistas os jovens trabalhadores e interpela os crentes para uma conversão
pelos pobres e os mais pequenos.
54. Nos países onde fazem parte da JOC militantes de outras religiões ou não
crentes, a JOC (sem perder a sua identidade eclesial) propõe-lhes descobrir,
aprofundar e viver a fé na riqueza da sua tradição religiosa, com a abertura a uma
atitude ecuménica do diálogo e da confrontação, com um enraizamento nas
instâncias de libertação dos povos oprimidos.
55. A vida de todo o jovem trabalhador tem uma dimensão internacional. Cada
vez mais o mundo está ligado e interdependente. As causas de muitas situações
difíceis são internacionais, como as consequências de decisões são muitas vezes de
ordem mundial. No mundo inteiro, jovens trabalhadores, de maneiras e formas
diversas, vivem situações difíceis de esmagamento e de alienação, alimentam e
exprimem aspirações comuns.
56. A CIJOC torna possível o intercâmbio, a confrontação e a coordenação
entre diferentes movimentos nacionais. Cada movimento nacional põe em comum
as suas riquezas, a especificidade do seu próprio país, as suas dificuldades e suas
exigências. Em conjunto aprofundam os aspectos comuns, os laços recíprocos, a
dimensão internacional. A CIJOC suscita a solidariedade entre eles.
A CIJOC é uma voz e um apelo da juventude trabalhadora que se dirige à mesma
juventude, à sociedade no seu conjunto, à opinião pública mundial e às instituições.
Por isso a CIJOC é representativa da juventude trabalhadora.
57. A CIJOC, como coordenação internacional de movimentos de jovens
trabalhadores, eles mesmos autónomos, tem a sua personalidade e a sua
autonomia.
58. A autonomia é, antes de tudo financeira. Para realizar isto, os movimentos
nacionais contribuem para a auto-financiação que deve assegurar as despesas
fundamentais da organização.
59. A JOC é um Movimento de jovens que forma para o compromisso e a
militância. Cabe aos militantes decidir a que organização política e sindical aderir.
A JOC não se confunde nem adere à linha de um grupo político ou sindical, ela
quer permanecer livre nas suas decisões.